5.18.2008

, the democracy of color / , a democracia das cores





A Lu (Martins) está em Nova York e conseguiu pegar os últimos dias da exposição Color Chart no MoMA. Ela manda uma frase, e as fotos que tirou, para a gente.

Green As Well As Blue As Well As Red
Red And Green And Blue More Or Less
Red Over And Above Green Over And Above Blue
Red In Relation To Green In Relation To Blue
Red In Lieu Of Green In Lieu Of Blue.

Lawrence Weiner,1972.

Leia abaixo matéria sobre a icônica exposição:

As várias autonomias das cores
por Eduarda Porto de Souza

A mostra Color Chart: Reinventing Color, 1950 to Today, em cartaz no MoMA até 12 de maio de 2008, colore ainda mais a cidade de Nova Iorque, celebrando um paradoxo: a beleza que aparece no trabalho de artistas que decidem fazer uso da cor através de acidentes ou sistemas arbitrários. A cor como um ready-made, pela compra ou apropriação, e não a ser misturada numa paleta. É a primeira exposição dedicada a esta importante transformação, reunindo trabalhos de 44 artistas, entre eles Ellsworth Kelly, Gerhard Richter, Sherrie Levine e Damien Hirst.

É o grito de autonomia total das cores, esmagando de uma vez por todas a idéia de que arte conceitual ou minimalista existe apenas em tons de preto, cinza e branco. Pois foi em meados do século XX que antigas convicções sobre a verdade espiritual e a validade cientifica de algumas cores abriram caminho para seu uso como um produto comercial, produzido em massa. “Eu tentei manter a tinta tão boa quanto ela estava dentro da lata”, nas célebres palavras do artista Frank Stella. Assim, a exposição tem como ponto de partida a tabela de cores comercial, como a dos catálogos de tinta ou a Pantone, que deu a cor o status de algo estandardizado.

Mas qual a verdadeira relevância em montar essa exposição hoje? “A maioria das crianças só vai conhecer as cores que já vem prontas – na tela do computador, nas canetinhas, nos crayons, etc – e não os pigmentos do século 19 ou antes. Até o século passado, a maioria das cores do nosso mundo vinham da natureza: do por-do-sol, dos arco-íris, das flores. Agora a maioria das que estão em nossas vidas, especialmente da das pessoas que habitam as cidades, são artificiais: digitais, eletrônicas, plásticas entre outros resultantes industriais”, responde Ann Temkin, da sessão de pintura e escultura do MoMA, responsável pela curadoria de Color Chart.

Como os trabalhos mais significativos da exposição, Temkin aponta: a série “Benjamin Moore paintings” (Pinturas de Benjamin Moore) (1961-62), de Frank Stella, feita com tintas ordinárias de parede; “Ten Large Color Panels” (Dez Grandes Painéis Coloridos) (1966), de Gerhard Richter, marcando o momento de sua carreira onde passou a usar cores tendo a tabela como base, de maneira impessoal e pouco emotiva; “Six Colorful Inside Jobs”, (Seis Trabalhos Internos Coloridos) (1977), de John Baldessari, a documentação em video de uma performance realizada pelo artista em Los Angeles onde ele evidencia a falta de distinção entre um artista plástico e um pintor de casa.

Quem fala conosco sobre o uso da cor é o escritor e artista David Batchelor, que integra a mostra com sua série de fotografias “Found Monochromes of London” (“Monocromos encontrados em Londres”), retângulos brancos encontrados durante seus passeios pela cidade. Autor de ensaios essenciais sobre a sociedade contemporânea e o medo de seu uso pela cultura ocidental, entre os mais notáveis “Cromofobia”, disponível nas melhores livrarias do país em edição brasileira lançada pela editora Senac, Batchelor é fã do Brasil e frequentemente está em São Paulo para comprar novos ready-mades na 25 de março, a qual, ao contrário dos paulistanos, ele descreve como um verdadeiro paraíso. Lá, ele encontra infinitos objetos coloridos em plásticos, que são os personagens principais da maioria de suas obras.

“A cor está sendo reinventada diariamente nas grandes cidades. As que experimentamos agora não estavam disponíveis a 100 anos atrás, os plásticos e a eletrificação cuidaram disso. Novas tecnologias trouxeram novas cores e superfícies”, diz Batchelor. “É impossível conter ou controlar o efeito das cores, na prática ou na teoria. Ela supera a linguagem sem nenhum tipo de esforço”.

A arte de Batchelor é, antes de tudo, sobre a cidade e sobre a praticidade, que também compõem o que pode ser visto em “Color Chart”. Sua série de monocromos é um manifesto sobre a ausência da cor, um respiro, uma surpresa diante de tanta informação provida por uma grande cidade. São cartazes desbotados, placas apagadas ou espaços que ainda não foram preenchido. “A arte serve muitas vezes como uma maneira de tornar o processo de percepção mais lento, como se olhássemos para o mundo pela primeira vez, sem nenhum tipo de preconceito”, explica o artista que, ao ser lecionado em sua época de faculdade pelos mais importantes artistas conceituais de nosso tempo, numa época onde a sofisticação teórica sobrepunha a tudo, viu na cor um grande território de libertação, e uma maneira de tratá-la com viés social. Sua cor preferida? “Tenho uma nova todos os dias, mas não necessariamente a mesma que ontem”.

Ele admite ter começado a fazer uso de cores por acaso, quando pintou uma escultura de madeira de rosa. “A chance é algo que pode ser usado de inúmeras maneiras. Eu acho importante que o artista esteja sempre aberto ao imprevisível. Acidentes de ateliê são muitas vezes o momento mais produtivo”, revela.

“Idéias que são um produto das coisas existentes no mundo, e não do intelecto humano”, enfatiza. Um dos grandes destaques de sua pesquisa e trabalho é a dificuldade que o mundo ocidental tem de aceitar a cor como algo sério, e sim como kitsch, feminino, decorativo, ornamental. “O universo masculino heterosexual, por exemplo, não é ligado a ela”, relembra. “Ligar a cor ao prazer é algo completamente inevitável, mas ela vai muito além disso”.

“As cores tem muito para nos falar sobre a sociedade e sobre a cultura das pessoas em absolutamente todas as épocas, útil como uma fonte interminável para um estudo fértil”, conclui Ann. “São uma enorme e poderosa fonte de prazer, essa é uma das razões por ser aceita com menos seriedade pelos intelectuais, mas este é um grande erro”, finaliza.

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